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SIMPÓSIO TEMÁTICO 01: As traduções na experiência intercultural

COORDENADORES: Maria Inês de Almeida (UFAC) & Camila Bylaardt Volker (UFAC)

RESUMO: O filósofo Walter Benjamin, no ensaio "A Tarefa do Tradutor", afirma que "nenhum dado do conhecimento pode ser ou ter pretensões a ser objetivo quando se contenta em reproduzir o real, e do mesmo modo também nenhuma tradução será viável se aspirar essencialmente a ser uma reprodução parecida ou semelhante ao original". Tomando como premissa essa afirmação de Benjamin, este simpósio quer reunir trabalhos que, colocando-se em situação de tradução (de uma cultura para outra, de uma língua para outra, de um estado para outro, de uma linguagem para outra...) não pretendem reproduzir o outro, mas sim produzir conhecimentos (teorias, imagens, grafias...) a partir do contato. A experiência tradutória é uma experiência de transformação, pois a tradução implica em diferença; deve-se reelaborar o vivido, rememorar, construir de novo, transcriar, conforme teoriza Haroldo de Campos ("A arte no horizonte do provável", 1977). Essa transcriação, que se dá através do deslocamento promovido pela tradução, vai mobilizar diversas ressignificações tanto daquele que traduz quanto daquele que é traduzido. Nosso grupo de pesquisas do Laboratório de Interculturalidade, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e Identidades, propõe um debate em torno das diversas práticas tradutórias, motivado por sua perspectiva transdisciplinar e intercultural, relacionada principalmente com a compreensão do mundo amazônico indígena. Em um lugar em que a diversidade linguística e cultural é muito grande, como na Amazônia, e onde diversos pesquisadores se empenham e se empenharam em interpretar tanto a floresta como os seus habitantes, a tradução se torna um operador fundamental nas relações sociais, já que qualquer forma de contato pressupõe a mediação da linguagem e a necessidade de se assumir o equívoco (inerente a essas situações) que, no entanto, deve ser controlado, na busca do diálogo. A tradução torna-se, assim, um instrumento que faz aparecer diferenças e não homogeneíza as práticas, ou seja, permite que as culturas e línguas se beneficiem e se fortaleçam no contato e não apaguem suas diferenças forjando um discurso monopolista e gregário. Ela faz com que o próprio tradutor reflita sobre a sua posição e reflita sobre a possibilidade (ou impossibilidade) de contornar o equívoco que a experiência intercultural pode fazer ver. Essa reflexão do tradutor surge na experiência de se colocar diante do outro sem nele encontrar o seu lugar - é o impulso para o esboço, o traçado, a escritura. A tradução, para nós, seria, então, um conceito importante para teorizar de uma maneira mais abrangente a multiplicidade potencial das experiências interculturais - tanto em seus equívocos quanto em seus acertos.

O Simpósio convida pesquisadores das áreas de etnologia, arqueologia, estudos linguísticos e literários, ecologia, geografia, história, edição, artes e outras, dispostos a compartilhar e a refletir sobre suas experiências de pesquisa no contato intercultural e em qualquer tipo de tradução.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 02: Ayahuascas e Plantas professoras: representações sociais, culturas amazônicas e narrativas

COORDENADORES: Julia Lobato Pinto de Moura (UFAC) & Rodrigo Monteiro de Carvalho (SEE/AC)

RESUMO: A palavra ayahuasca, assim como a bebida que leva este, entre outros nomes, não está dada na natureza. Seu uso/consumo requer a necessidade de um feitio, uma produção que é permeada em si por um conjunto de crenças, sabedorias, rezas, oralidades, tradições inventadas e reinventadas, construídas através das próprias experimentações e ensinos que a bebida propicia a cada agrupamento humano que faz uso dela.  A bebida é feita de um cipó e folhas de um arbusto, com várias nomeações, mas podem conter outras de plantas em seu preparo. A produção é ligada a diversas regras influenciadas pelas cosmologias dos grupos indígenas ou não-indígenas que a utilizam. A não uniformidade/homogeneidade da ayahuasca, enquanto narrativa, nos remete à sua antiguidade de uso, assim como às “tradições” de uso e as construções histórico-simbólicas que mulheres e homens vêm atribuindo ao consumo desse preparado (HOBSBAWM, 2008). Ayahuasca produz conjuntos de saberes com significados e representações tão profundas e complexas que (ALBUQUERQUE, 2011) propõe o termo “Epistemologia da ayahuasca” como uma forma de pensar o mundo e os conhecimentos pertencentes a este universo mágico/simbólico e sua pedagogia, os ensinamentos em contato com as plantas professoras.  A “ayahuasca” como signo linguístico, palavra de origem quéchua, é ‘traduzida’ em língua portuguesa como “cipó dos espíritos”, “cipó das almas”. A bebida sagrada, conhecida e utilizada por grupos indígenas em toda região pan-amazônica, possui mais de quarenta outras denominações entre elas, Nixi Pãe, Yagé, Santo Daime, Vegetal, Oasca, Cipó, sendo consumida por diversos grupos urbanos na atualidade. Seu uso ritualizado é encontrado desde o Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador até a América Central como apontado por (LUNA, 2012). Ainda que a longa tradição de sistemas xamânicos seja encontrada em toda região amazônica é apenas no Brasil que surgiram religiões institucionalizadas de grupos não-indígenas com uso da ayahuasca. Conhecidas de forma mais ampla como o Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal estas religiosidades sincréticas surgiram na primeira metade do século XX e desta forma a ayahuasca se torna objeto de culto de religiões singulares no Brasil. A partir da década de 1980 se iniciam pesquisas, investigações, restrições/legislações e debates sobre a patrimonialização dessas culturas e tradições daimistas/ayahuasqueiras. (SILVA, 1983; COUTO,1989; SILVA SÁ, 1996; LABATE, 2002). Nossa proposta está em estabelecer discussões que permitam analisar as práticas culturais associadas ao convívio com as “plantas professoras”, sendo essas, vegetais, ervas, cipós, folhas, mas também fungos e até animais que possuem propriedades fito-químicas com características psicoativas. Durantes as últimas décadas diversos estudiosos têm utilizado o neologismo “enteógeno” para designar as plantas de saber ou plantas-mestras,  que possibilitam o encontro com o nosso “Deus dentro”. O neologismo é apresentado como um contraponto a ideia de “alucinógenos” para chamar a atenção e entender que o consumo destas substâncias alteradoras da consciência pela humanidade quase sempre está associado a um contexto sagrado, uma busca por se encontrar, para a cura de doenças, o prazer ou conhecimentos. Na proposta de pensar “as ayahuascas” chamamos atenção que o termo, que é o mais utilizado na nomenclatura acadêmica para se referir a esta bebida de múltiplas facetas, não está isento da neutralidade e não se refere a um “objeto” em si. Como destaca (ASSIS, 2017), não é um simples objeto de estudo, uma bebida e seus efeitos, todavia é concebida como um agente produtor, mediador e modificador das percepções de identidades sobre as quais transitam as dinâmicas sociais dos grupos ayahuasqueiros. O objetivo central deste Simpósio Temático é promover o diálogo entre pesquisadores que se dedicam a investigar as tradições ayahuasqueiras nos contextos amazônicos e não-amazônicos. A partir de nossas vivências com o uso ritual da bebida e nossas pesquisas na Pós-Graduação procuramos promover um encontro para ampliar as discussões sobre este vasto campo de estudo que são as práticas culturais e religiosas ayahuasqueiras. Este ST procura também chamar a atenção para o necessário fomento de ações educativas que divulguem conhecimentos plurais sobre experiências com o sagrado como forma de combater as intolerâncias e fundamentalismos religiosos. São bem-vindas pesquisas etnográficas, cartográficas, linguístico-discursivas e do campo das demais ciências humanas, da saúde ou da natureza. Nosso questionamento se ampara na crítica a monocultura da razão moderna e no incentivo ao diálogo e "ecologia de saberes" (SANTOS, 2007) nos campos dos estudos de uma geografia e história cultural.

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SIMPÓSIO TEMÁTICO 03: Comunidades de prática e redes de aprendizagem: possibilidades para o desenvolvimento profissional e contínuo do professor de línguas

COORDENADORES: Rodrigo Nascimento de Queiroz (UFAC) & José Mauro Souza Uchôa (UFAC)

RESUMO: O desenvolvimento profissional e contínuo representa-se como uma trajetória complexa para a formulação das competências esperadas ao professor de línguas. Desenvolver a sensibilidade crítico-reflexiva acerca de questões globais e locais associadas à educação de línguas são aspectos que requerem práticas de conscientização para mobilizar atitudes responsivas de transformação social do professor de línguas (LIBERALLI, 2010). Partindo dos diversos cenários contextuais experienciados pelo professor na educação de línguas aventa-se a necessidade de atitudes didático-pedagógicas engajadas em constituir o desenvolvimento profissional convergido para práticas colaborativas e cooperativas. Nesta perspectiva, as lacunas e dificuldades formativo-profissionais são elementos mobilizadores de partilhas de ideias que podem convergir para um processo de (re)aprendizagem das experiências, como também da conscientização acerca dos papéis sociais do professor e do aprendiz. Os fatores contextuais presentes nas práticas profissionais do professor de línguas configuram complexas relações sociais que refletem questões acerca dos diferentes papéis/identidades constituídos no contexto educacional. Essas questões também representam as atitudes didático-pedagógicas que integram as demandas contextuais de uma formação profissional convergida para as necessidades locais dos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Inserido neste processo apresentam-se ainda os reflexos de programas que compõem o Plano Nacional de Formação de Professores fomentado por ações como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, a Residência Pedagógica e a implantação da nova Base Nacional Comum Curricular. Dentre estas iniciativas institucionais torna-se necessário analisar também os novos desafios constituídos a partir das inter-relações contínuas na sociedade contemporânea inseridas em um contexto de múltiplas práticas educacionais. Além de considerar estas iniciativas governamentais, as discussões constituídas neste simpósio circundam especificidades contextuais das ações cotidianas e locais do professor de línguas. As reflexões constituídas neste simpósio possibilitarão o reconhecimento de diferentes matizes contextuais experienciadas pelos professores de línguas. E, ainda, constituir um espaço para o compartilhamento de ideias e propostas que promovam a (re)avaliação das atitudes profissionais presentes no cotidiano didático-pedagógico. A (re)condução das lentes para uma realidade do ensino de línguas que corrobore questões do contexto local em face ao global tornam-se pauta para uma partilha de experiências produtivas, como também para o fortalecimento do papel do professor de línguas. Partindo destas considerações iniciais, o presente simpósio propõe os seguintes objetivos: (i) mobilizar um debate com o viés crítico e reflexivo acerca de cenários contemporâneos para o desenvolvimento profissional contínuo do professor de línguas; (ii) compreender o papel da educação de línguas consoante aos fatores contextuais da prática do professor e de atitudes responsivas para as reais necessidades dos aprendizes;  (iii) estabelecer um espaço para o compartilhamento de experiências por meio de pesquisas, projetos e relatos que configurem o cotidiano do ensino de línguas local e (iv) compreender os conceitos e aplicações adequadas de uma Comunidade de Prática (CP) e uma Rede de Aprendizagem (RA) para professores de línguas. Com os objetivos delineados, cumpre-se esclarecer que uma CP, conforme Wenger (1998) é a configuração de “constelações de práticas interconectadas” (traduzido do termo original em inglês: “constellations of interconntected practices”) (idid, 1998, p. 127). A CP, por sua vez, apresenta-se como um espaço de interlocução de atores/partícipes que compartilham de anseios, valores e objetivos mútuos com a finalidade de apontar alternativas equitativas para problemas presentes em suas práticas socializadas. Em percurso epistemológico semelhante, a RA, também caracterizada como uma rede pessoal de relacionamento do professor, configura-se em um espaço de partilha, no qual os professores (re)aprendem à observar suas práticas e atitudes didático-pedagógicas formuladas nas experiências do cotidiano educacional. Conforme Nóvoa (2014), a RA possibilitam a desconstrução de antigos tradicionais acerca do processo de ensino-aprendizagem, antes localizado na agência do contexto escolar. Com o advento das mídias sociais e a digitalização da sociedade, a RA torna-se uma alternativa pela qual os professores podem constituir também percursos de trocas de experiências para refinar e reconduzir sua expertise sobre as práticas na sala de aula. A RA é caracterizada como um sistema pessoal do professor a partir da organização de uma curadoria de recursos didático-pedagógicos compartilhados, em especial, nas mídias sociais, por exemplo, sugestões de links e websites na conta do instagram, twitter ou blogs. Essa característica pode representar a formatação de uma CP, uma vez que se organiza partindo das necessidades contextuais vivenciadas pelos professores. E, ainda demonstra-se como uma alternativa de empreender o próprio desenvolvimento contínuo do professor a partir do conhecimento de recursos que aprimorem sua prática nas dimensões profissionais e intrapessoais.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 04: Difusão da literatura amazônica e indígena: a memória, os espaços, os discursos e a estética

COORDENADORES: Auxiliadora dos Santos Pinto (UNIR) & Márcia Dias dos Santos (UNIR)

RESUMO: Essa proposta está vinculada ao eixo temático oito, deste  evento: “História, memória e literaturas” e tem como objetivo agregar pesquisas sobre a difusão da literatura amazônica e indígena, visando promover um debate sobre a memória, os espaços, os discursos e a estética que permeiam as produções literárias da/na Amazônia. Considerando que o processo de construção de narrativas na Amazônia é marcado por mitos e estereótipos decorrentes do processo de colonização, pretende-se discutir sobre as simbologias, as representações, as singularidades e plural idades da produção literária amazônica e indígena. Também daremos destaque aos diálogos intertextuais das/nas obras literárias com as mitologias e as cosmogonias indígenas e à diversidade cultural, à transculturalidade e o pluriculturalismo, decorrentes dos processos de globalização e mundialização, discutindo, de que forma esses aspectos incidem sobre a estética. As discussões serão fundamentadas pelos autores dos Estudos culturais, amazônicos, indígenas e indigenistas, destacando-se Loureiro (2014 e 2015), cuja obra discute sobre as singularidades da Amazônia, destacando os espaços sociais e tradicionais da cultura e da literatura amazônica; (Hall (2016) que discute sobre os temas: representação, cultura, linguagem e sentido; Halbwachs (2003), cuja obra discute sobre memória individual e memória coletiva; Thiel (2012) que apresenta discussões sobre as produções literárias na voz-práxis do indígena; Graúna ( 2013) que aborda sobre os espaços da literatura como um agente de (re) apropriação da memória e que  coloca o sujeito/autor como resistência da apropriação epistêmica do colonizador; Munduruku (2012/2014) que procura difundir as fronteiras entre as produções indígenas e não indígenas para que os textos indígenas possam ser lidos, ao mesmo tempo em que rompem com a inexistência de uma voz indígena dando espaço a um diálogo multimodal/cultural e estético. Conforme Loureiro (2014, p. 40), “[...] a linguagem literária é um caminho, mas nunca um caminho imóvel, pois se vai construindo enquanto atravessa a cultura, sendo por ela atravessado. A linguagem literária é um caminho que caminha”. É necessário frisar também que a literariedade e sentido se dão nos textos de forma intrínsecas. De acordo com Queiroz e Almeida (2004, p.199) são operações cognitivas e sociais que nos levam a “pensar a literatura como prática social” e nos exige um olhar ao contexto pragmático pelo viés das análises cognitivas e sociológicas dessas literaturas. Nessa perspectiva, as discussões deste grupo de trabalho serão voltadas para pesquisas que apresentem análises de obras em prosa ou poesia de literatura amazônica e/ou indígena que possam apresentar aspectos como diversidade, alteridade, memória, representação, polifonia, intertextualidades entre outros. Nesse sentido, as discussões pretendem contribuir para que esses textos, que estão à margem do cânone ou de literaturas amplamente divulgadas, possam ser lidos, apresentados e discutidos e se revelem como instrumento de formação social que colaborem para uma (des) “legitimação da desigualdade social” (BOURDIEU, 1999, 258), tendo em vista que os discursos de autores Amazônicos e indígenas devem ser lidos/ouvidos de modo que provoquem nesses espaços formas de construir alteridade, negociar  sentidos e legitimar o direito à literatura, que para Cândido (1989, p. 112) é uma manifestação universal de todos os homens em todos os tempos.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 05: Estudos sobre descrição e análise de Línguas Indígenas

COORDENADORES: Quesler Fagundes Camargos (UNIR) & Selmo Azevedo Apontes (UFAC)

RESUMO: Este Simpósio Temático tem por objetivo reunir trabalhos sobre descrição e análise de línguas indígenas. Justifica-se nas oportunas palavras de Aryon Dall’Iigna Rodrigues, ditas em 1966, expondo as tarefas da linguística no Brasil: “As línguas indígenas constituem um dos pontos para os quais os linguistas brasileiros deverão voltar a sua atenção. Tem-se aí, sem dúvida, a maior tarefa da linguística no Brasil. [...] Cada nova língua que se investiga traz novas contribuições à linguística; cada nova língua é outra manifestação de como se realiza a linguagem humana; [...]  cada nova estrutura linguística que se descobre pode levar-nos a alterar conceitos antes firmados, e pode abrir-nos horizontes novos para a visualização geral do fenômeno da linguagem humana. [...] Desde que se tenham algumas descrições de línguas, aparecerão espíritos curiosos bastante para dedicar-se a comparar essas descrições e daí tirar conclusões, classificando as línguas como relacionadas umas com as outras ou como pertencentes a tipos semelhantes num ou noutro particular, e para fazer deduções de ordem mais profunda, no âmbito da linguística geral e no campo das ciências antropológicas” (RODRIGUES, 1966, p.4-5). Embora os trabalhos relativos às línguas indígenas tenham aumentado significativamente nos últimos anos, principalmente a partir do final do século XX, é fato que, mesmo depois de 53 anos da publicação do texto, a tarefa apontada por Rodrigues (1966) ainda está por fazer. Com efeito, das prováveis 180 línguas faladas atualmente no Brasil, há algumas que receberam pouca atenção de linguistas e muitas que ainda não possuem um estudo exaustivo, geralmente publicado por meio de gramáticas descritivas. Para se ter uma ideia do atual estado de descrição dessas línguas, Moore (2007b) afirma que, de todas as línguas indígenas brasileiras, apenas 9% possuem uma descrição completa (i.e. descrição da gramática, coletânea de textos, dicionário); 23% apresentam uma descrição avançada (i.e. tese de doutorado ou muitos artigos); 34% possuem uma descrição incipiente (i.e. dissertação de mestrado ou alguns artigos); e 29% dessas línguas não possuem trabalhos com alguma importância científica. Além disso, segundo Moore (2007a), 23% das línguas brasileiras estão ameaçadas de extinção em curto prazo, por causa de seus números reduzidos de falantes e de baixa transmissão à nova geração. Assim sendo, o Simpósio Temático “Estudos sobre descrição e análise de Línguas Indígenas” se faz imperioso para congregar profissionais para partilhar, divulgar, discutir e ampliar o cabedal de conhecimentos sobre as línguas indígenas. Os trabalhos podem abranger a descrição linguística com foco nos diversos níveis linguísticos, a saber: fonética, fonologia, morfologia, sintaxe e nas suas interfaces, ou também os estudos comparativos e históricos. Ademais, trabalhos que se articulem com a antropologia, a literatura, a história, a geografia, a saúde, a música, entre outras áreas, são essenciais para se enriquecer a documentação linguística. O primeiro Grupo de Trabalho nesse formato foi realizado em 2017 no I Encontro do Grupo de Estudos Linguísticos e Literários do NORTE – GELLNORTE. E agora, ano em que a UNESCO lança o Ano Internacional das Línguas Indígenas, com o objetivo de contribuir “para a conscientização da necessidade urgente de se preservar, revitalizar e promover as línguas indígenas no mundo”, faz-se necessária a promoção das línguas indígenas e continuidade desse Simpósio Temático. Como afirma a UNESCO, “atualmente, existem por volta de 6 a 7 mil línguas no mundo. Cerca de 97% da população mundial fala somente 4% dessas línguas, e somente 3% das pessoas do mundo falam 96% de todas as línguas existentes. A grande maioria dessas línguas, faladas sobretudo por povos indígenas, continuarão a desaparecer em um ritmo alarmante. Sem a medida adequada para tratar dessa questão, mais línguas irão se perder, e a história, as tradições e a memória associadas a elas provocarão uma considerável redução da rica tapeçaria de diversidade linguística em todo o mundo”. Assim sendo, torna-se cada vez mais imperioso o estudo de toda a riqueza cultural linguística dos povos indígenas.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 06: Identidades Docentes: linguagens, currículos, políticas de formação e experiências

COORDENADORES: Antônia Aparecida Lima Lopes (SEME/RB) & Valda Inês Fontenele Pessoa (UFAC)

RESUMO: Um discurso/texto tem sempre um espaço e um tempo de produção. Posicionando-nos de forma contrária àqueles que o vêem como uma unidade significativa e fechada, o visualizamos como contrapartida para um diálogo aberto, não hierarquizado entre interlocutores, não havendo nem a primeira nem a última palavra, menos ainda fronteiras disciplinares para a discussão da temática ora proposta. Nesse sentido, no caso deste texto, a intenção é a de propormos para este simpósio temático a oportunidade de discutirmos sobre diferentes pontos de vista a respeito da constituição identitária do/as professore/as, de forma a alimentar os nossos olhares e assim, alargar as nossas possibilidades de significação. Com esse interesse, sem nos atermos aos detalhes das múltiplas roupagens que têm estado presente nas discussões desse tema, no entanto, a partir da compreensão da docência que se estabeleceram a partir da segunda metade do século XX no Brasil, podemos afirmar que as políticas de constituição das identidades docentes foram influenciadas fundamentalmente por duas vertentes epistemológicas: ciência/tecnologia e teoria/prática. Na primeira, sob o âmbito positivista, a educação é compreendida como uma ciência aplicada e as linguagens organizadoras da formação docente tendem a colocar no centro dos debates, aspectos instrumentais e pragmáticos produzidos pela ciência, constituindo-se no repertório naturalizado, replicado pelos sujeitos no espaço das instituições formadoras e nas escolas da hoje denominada educação básica. Nessa concepção, há uma crença que credita todo poder do saber na investigação educacional já produzida e que é somente desse espaço que emerge sólidos conhecimentos passíveis de serem aplicados em sala de aula, independente dos sujeitos atuantes. É desse território que brota o escopo suficiente para a tomada de decisões, direcionando políticas de construção/reformulação de currículos, de atuação e de avaliação. Assim, com a certeza dos experts, são desenhados modelos de tal forma, que abarcam objetivamente os níveis de conhecimento, de competências e das estratégias a serem buscadas pelos professores das escolas. Nessa perspectiva, prioriza-se para orientar a formação docente movimentos de valorização da linguagem da eficiência, constituindo consensos em torno do que é julgado pertinente para a atuação do/a professor/a, reduzindo o horizonte da formação ao saber tácito da prática instrumental, oportunizando processos cognitivos no interior desses limites, eivados de direcionamentos que enfatizam o modo de “como deve ser” a atuação docente. Por intermédio da linguagem da eficácia, da disciplinarização, da avaliação, da qualidade dos objetivos os experts vão se firmando e legitimando como se pensa e como se deve atuar, alçando as posições de poder pelo domínio desses saberes. Imbricada nessa lógica, fica perceptível a concepção separatista em que de um lado estão os que pensam as alternativas de atuação e de outro, aqueles que praticam as técnicas de ensinar na instituição escolar, no caso os professore/as. De acordo com a literatura sobre a temática, até a década de oitenta os estudos no Brasil foram influenciados basicamente pela produção norte-americana. Entre as primeiras pesquisas que chegaram ao nosso país estão àquelas inspiradas nos pressupostos de produtividade e controle, orientadas pelos moldes da organização industrial. Os professores são compreendidos como seres abstratos, desvinculados do tempo e do espaço, para os quais a constituição estrutural da sociedade e sua história não têm relevância. Convivendo com essa vertente, surge uma segunda que se aloja na perspectiva denominada crítica. Para esta a educação é uma práxis reflexiva. Seus pensadores são guiados por questões sociológicas, políticas e epistemológicas. Analiticamente expõem fotografias da escola em diferentes períodos históricos, denunciando seu caráter conservador, descortinando a áurea de pureza e de neutralidade das suas intenções, evidenciando o seu maior comprometimento com a estrutura da sociedade capitalista, ou melhor, a escola reflete e trabalha predominantemente em favor da manutenção da sociedade dividida em classes. Por essa perspectiva, demonstram que as ações desenvolvidas no interior da escola estão implicadas inevitavelmente por relações de poder e para essas afirmações, extrapolam os muros da escola, relacionando os seus fazeres à estrutura mais ampla e suas determinações sociais, a sua história e a sua produção contextual. Críticas são construídas em torno da organização do trabalho pedagógico orientado pela vertente ciência/técnica, evidenciando o reducionismo que a escola é levada e ao automatismo do ambiente que professore/as e aluno/as vivenciam, influenciando na constituição das suas identidades. Trabalham em torno das possibilidades formativas de construção identitária emancipadas, primando por disseminar saberes e práticas de natureza ética, estética e axiológica. Dessa maneira, ao passo que a dimensão política da educação foi sendo descortinada, o modo de compreender o/a professor/a, como também, o processo de sua constituição, foi sendo paulatinamente alterado. Diante da mudança de foco, a partir dos anos oitenta, novos olhares foram sendo construídos, enxergando a função docente e seu trabalho dentro da estrutura de poder da sociedade, na qual a identidade docente vai se constituindo. Dentre outros, Paulo Freire foi determinante para essa virada epistemológica, desde os primórdios da teorização crítica em educação, os conceitos de ideologia, de poder, de classe social, de cultura e de emancipação têm sido centrais a orientar as análises da escolarização e consequentemente da formação de professores, rompendo teoricamente com a linha liberal da tradicional produção de conhecimento da área, que postulava a educação como desinteressada e desarticulada dos interesses dominantes. As fortes relações entre o que é produzido nas escolas e a constituição de identidades sociais e individuais têm levado pensadore/as engajado/as nessa tradição à formulação de projetos que refutam as formas de atuação docente que reforçam as desigualdades da estrutura social vigente. Nesse contexto, professores e processos constitutivos da identidade docente são analisados a partir de novas categorias, possibilitando entendê-los na concretude da ação pedagógica, tanto articulado às condições do seu exercício cotidiano, quanto da sua formação no âmbito que está inserido. Na continuidade da produção analítica da formação docente, no final da década de noventa passaram a fazer parte desse cenário, uma terceira vertente, influenciada pelos estudos pós-estruturalistas convivendo com as outras duas abordagens. Nessa nova virada, a argumentação se dá em torno da compreensão de que o/a professor/a e suas formas de ser e atuar pedagogicamente estão subordinado/as a regimes de verdades historicamente produzidos, tendo efeitos de poder sobre os processos de subjetivação docente, relacionado à questão ética. Centram interesses nas questões de governabilidade implicadas na docência. Foucault, Deleuze, Guatarri, Giroux, Larrosa, Boaventura Santos têm influenciado as análises nacionais brasileiras, principalmente de autores como por exemplo, Veiga-Neto, Silva, Gallo, Corazza, Costa, Moreira e Garcia, dentre outros. Boaventura Santos (2000) questiona os pilares da produção de conhecimento, atrelados aos princípios da modernidade. Para ele as análises do centro europeu são estendidas às regiões subalternas, orientando autoritariamente projetos educativos generalizantes, impondo de modo horizontal pontos de vistas nada modernos, com propósitos de continuidade dos processos de colonial idade dos povos subalternos. Sintonizados com essas compreensões, as pesquisas têm evidenciado que os currículos de formação docente, orientados por princípios generalizadores se constituem em mecanismos de sujeição para a constituição de identidades, para as quais as subjetividades são moldadas a partir das experiências que lhes são oportunizadas e que predominantemente se adéquam ao mundo da dominação. Assim, é dentro dessas três vertentes, sinteticamente descritas e que convivem na contemporaneidade, orientando a constituição de identidades docentes que estamos propondo este Simpósio, justificando-se por serem as duas primeiras predominantes nos cenários balizadores das discussões para a formação docente e a terceira por apresentar uma outra forma de olhar sobre compreensões naturalizadas e que ainda permanecem predominantes.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 07: O Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática - MPECIM/UFAC: contribuições ao ensino e aprendizagem da educação básica no estado do Acre

COORDENADORES: Gilberto Francisco Alves de Melo (UFAC)

RESUMO: A proposta do presente simpósio se enquadra no eixo temático 4:  Ensino, práticas de educação e experiências de sala de aula e tem como objetivo apresentar dados, reflexões e análises sobre as possibilidades e limites do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática– MPECIM/UFAC para o processo de ensino e aprendizagem das escolas de educação básica do estado do Acre. Ou seja, trata-se de pesquisas desenvolvidas nas duas linhas do Curso: Ensino e Aprendizagem em Ciências e Matemática, Recursos e Tecnologias no Ensino de Ciências e Matemática. Pesquisas estas desenvolvidas por professores(as) da educação básica em exercício, mais notadamente os que atuam nas áreas de Ciências e Matemática, nas disciplinas de Ciências da Natureza, Biologia, Física, Química e Matemática, dos anos iniciais do Ensino Fundamental ao Médio e/ou Superior e/ou desempenhando outras funções nas diversas esferas e em espaços não formais. Isto é, os candidatos(as) devem ter formação em licenciatura em Pedagogia, Ciências da Natureza, Ciências Biológicas, Física, Química e Matemática. Ressalta-se que devem cursar sem bolsa e com dificuldades de apoio institucional em alguns casos.A proposta justifica-se tendo em vista a necessidade de ampliar e fortalecer o debate sobre o tema em nosso Estado; estreitar os laços entre professores(as); licenciandos (as) e formadores (as)/pesquisadores(as). Em outras palavras, possibilitar o diálogo entre ensino, pesquisa e extensão com vistas a ajuda mútua na melhoria do ensino e aprendizagem destas duas disciplinas e, da formação e/ou desenvolvimento profissional dos(as) professores(as). O Mestrado é um espaço de formação mais ampla, que inclui diferentes momentos, perspectivas e estratégias, em particular, a investigação sobre a prática de sala de aula, a construção de conhecimentos para ensinar e a discussão de estratégias de ensino que favoreçam o desenvolvimento profissional dos professores, pois tematiza sua prática promovendo discussões sobre teorias e práticas e potencializando suas ações quando em atuação na sala de aula na educação básica. Neste sentido, os(as) mestrandos(as) participam de grupos de pesquisa, nos quais dialogam sobre referenciais teóricos, além de apresentar seus projetos para discussão do coletivo. E tem a possibilidade de escrever trabalhos para apresentação e publicação em eventos e revistas da área. Adotando essa perspectiva, o MPECIM vem estreitando relações com as escolas públicas e/ou privadas acreanas e a Universidade.  A metodologia adotada na proposta consistirá na apresentação de comunicações oriundas de pesquisas e das práticas pedagógicas desenvolvidas nas escolas e em espaços não formais, seguida de debate. Também serão apresentados os dados coletados em documentos do Programa e junto aos egressos desse curso. De modo específico, trata-se de acompanhamento anual, visando obter informações sobre como estão desenvolvendo seu trabalho após o mestrado; se tem aplicado o produto educacional e divulgado junto aos pares; percepções sobre as contribuições do Curso para a formação e prática pedagógica que possa ser utilizado por outros(as) professores (as), em sua grande maioria. Esse produto é socializado na escola em que atuam ou naquelas escolas onde foram desenvolvidas as pesquisas. De modo específico, espera-se que o(a) mestre faças as aplicações que julgar pertinente nas suas turmas e compartilhe com seus pares, para posterior troca de experiências. E com isso avaliar os limites e possibilidades do seu produto, podendo fazer ajustes para atender as especificidades de cada contexto. O produto da dissertação são, por exemplo: objetos de aprendizagem (Software, simulações, hipermídias, etc.), textos e sequências didáticas de apoio aos professores; equipamentos educacionais; guias didáticos, jogos, experimentos entre outros. A disseminação desses produtos, considerados de intervenção, pode contribuir para a formação de outros(as) professores(as) de Ciências e Matemática, além de contribuir com as pesquisas sobre o processo de ensino e aprendizagem e sobre questões que envolvem a formação e o desenvolvimento profissional dos(as) professores(as). Tais pesquisas desenvolvidas no Mestrado têm papel fundamental para a melhoria da qualidade do ensino básico das escolas acreanas. Todavia, julgamos importante um esforço contínuo na melhoria das condições de trabalho, para que os(as) professores(as) possam por exemplo, reproduzir seus produtos com apoio institucional.Espera-se com este simpósio temático aliar esforços entre aqueles(as) que de forma isolada vem refletindo/ problematizando este tema, na perspectiva de forma colaborativa construirmos alternativas. As discussões serão permeadas com base no referencial teórico-metodológico das áreas, tais como Chassot (2001), Nardi (1998), Nóvoa (2000), Ponte ( 2012, 2015, 2016), Fiorentini & Lorenzato (2012), Skosmose (2001); Caraça (1952), Tardif (2002) dentre outros.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 08: Plantas e suas representações em contextos sagrados

COORDENADORES: Wladimyr Sena Araújo (UFAC) & Maria Betânia Albuquerque (UEPA)

RESUMO: Este simpósio tem como objetivo possibilitar o diálogo de estudiosos de diversas áreas do conhecimento sobre pesquisas referentes a plantas sagradas e a pluralidade de formas de expressão existentes sobre seus usos. Compreendemos por plantas sagradas todo vegetal, em qualquer estado, utilizado em contexto (s) sacro (s) (ESCOHOTADO, 2017; LABATE e ARAÚJO, 2000;2002; LABATE e GOULART, 2005; ARAÚJO, 1999; 2005) em tempos e espaços distintos. Neste sentido, diversas delas exprimem conexão direta com o divino e podem pertencer ao grupo dos psicoativos (a exemplo do peyote, ayahuasca, iboga, cogumelos, cannabis sativa, san pedro e jurema) ou de outras com propriedades não psicoativas (envolvendo plantas medicinais/terapêuticas, ou aquelas que facilitam o contato entre os mundos dos espíritos e o dos humanos manipuladas, por exemplo, sob forma de tabaco, ervas, parte de plantas ou totalidade delas, bebidas, incensos, águas compostas com vegetais, frutas, cereais, tubérculos, raízes), reforçando que os seus poderes servem para inúmeros fins e incluem reestabelecimentos físicos e espirituais, autoconhecimentos, aspectos divinatórios, viagens astrais, purificação, aproximação com espíritos e entidades, características estéticas, dentre tantos outros. Portanto, os usos sagrados manifestam mundo (s) por intermédio de representações coletivas, que foram legitimadas por grupos, comunidades e sociedades. Neste contexto, através de práticas culturais, ocorrem afirmações de identidades sociais (CHARTIER, 1991) e contribuição para a valorização e fortalecimento da memória. Neste sentido, a forte relação entre os vegetais, e seus contextos religiosos, possibilitará reflexões, neste Simpósio, sobre cosmologias, performances rituais - a exemplo da narrativa como performance inspirada em BAUMAN (1975;1977;2000;) e BRIGGS (1985) e teoria da ação humana de TURNER (2015) e SCHECHNER (1968), êxtase, estética, doença/cura, arquitetura e ofícios. Este universo simbólico, englobando práticas que usam plantas sacras, está envolto por uma longa discussão que inclui diversas formas de saberes, que se encontram em incontáveis espaços onde vicejam experiências de aprendizagem e onde se forjam subjetividades (ALBUQUERQUE, 2011). Estes saberes incluem campos cognitivos, artísticos, políticos/sociais, morais, espirituais, filosóficos, divinatórios, medicinais e práticos (Idem).  Esta percepção está conjugada ao conceito de lugares de aprendizagem não convencionais e vai ao encontro da perspectiva de Elssworth (2005), que trata das formas de aprender em diferentes locais. A relevância de sua obra, está no fato de observar lugares de saberes necessários ao self, do indivíduo, implicando uma autoaprendizagem de si e, também, do mundo. Ela estabelece uma crítica ao cartesianismo do ato de ensinar e aprender, restrito a um público seleto das universidades e centros escolares formais. Sendo assim, é possível obter informações e aprender em museus, cinemas, ruas, galerias, e outros locais possíveis. Refletindo sobre a proposta da estudiosa, incluímos, ainda, os locais onde são utilizadas plantas sagradas. A contribuição de Elssworth foi fundamental e articula-se com outras perspectivas acerca de pedagogias culturais, que contempla uma série de debates, com visões extremamente críticas, a exemplo de GIROUX (1994) e TREND (1992). Este debate entre representações de plantas sagradas, saberes e lugares de aprendizagem destes simpósio possibilitará reflexões ontológicas e epistemológicas que poderão contribuir com o debate acerca da decolonialidade, pedagogia cultural e de uma história cultural de plantas sagradas/poder.

 

 

SIMPÓSIO TEMÁTICO 09: Poéticas Amazônicas e Trânsitos Globais: artes, identidades, culturas populares

COORDENADORES: Mário Cezar Silva Leite (UFMT)

RESUMO: Nos últimos anos convencionou-se, não sem razão, afirmar que a globalização inserida na cultura e na arte, de certo modo definindo os seus rumos, diluiu em muito, quando não extinguiu totalmente, a sintaxe do pensamento binário e opositivo. Fim da sintaxe dualista e dos binarismos para o século XXI. Fim dos conflitos. Tudo se multiplicou, ramificou-se, abriu-se para os atravessamentos, fluxos e entrecruzamentos de toda ordem. Será? No plano das discussões sobre artes, identidades e globalização (temas inexoravelmente ligados) a vasta lista de títulos nas variadas áreas dos mais respeitados e renomados estudiosos demonstra a pertinência e atualidade da problemática para se tentar entender o mundo contemporâneo. Um dos focos principais de preocupação é exatamente o modo de estabelecimento, e tudo o que gravita nesse campo semântico, das relações das populações e culturas consideradas periféricas (ex?) e mais afastadas dos “grandes centros” com a avalanche ciber-cosmopolita e globalizadora. Uma questão que devemos esclarecer é que quando trabalhamos com a Amazônia ou “população amazônica” estamos referindo-nos a um vasto leque de possibilidades espaciais e existenciais. A que Amazônia referimo-nos? A que grupo socio-cultural específico estamos nomeando? O problema aqui, como se vê, é que denominado genericamente o grupo assume uma espécie de totalidade identitária que “mascara” e absorve toda a diversidade quer populacional quer socio-cultural presente no espaço. Há uma série de categorias, ou grupos, sociais diferentes entre si que por viverem na Amazônia, podem ser incluídas genericamente na expressão “amazônicos”. Sabemos que a chamada biodiversidade e a multiplicidade dos ecossistemas abrem-se também para os habitantes humanos da região e temos quilombolas, indígenas, pescadores, caboclos, para citar apenas alguns “amazônicos”. Mas é conveniente reter que diferenças internas vão caracteriza-los como categorias distintas, e em graus variados, em todas as esferas da vida social, cultural e imaginária. Em nossa proposição, consideramos amazônicos e Amazônia as variadas populações tendo como elemento definidor o espaço. Assim, é necessário entender um pouco os processos culturais que vão definindo um repertório globalizado para se chegar então aos inexoráveis e múltiplos entroncamentos artes/globalização/identidades culturais. A discussão sobre a produção de identidades em coletividades assimétricas, em tese, às margens dos centros urbanos, e/ou de substratos mais populares e oralizados no mundo que se considera globalizado, coloca alguns vetores fundamentais, desde sempre, para as artes, culturas e identidades. De imediato assola-nos a velha dicotomia cânone versus anticânone; centro(s)-periferia(s), sistema-sistemas, relações de legitimação e, fundamental, de poder. Arte/identidade/cultura popular versus arte/identidade/urbana/cosmopolita/hegemônica.  No limite, é uma grande e múltipla rede que se tece exatamente na medida e na fissura-nós em que a arte se produz na diretriz de manutenção-modificação-renovação. Qual a dimensão dessas artes no interior dos universos culturais orais, nos universos fronteiriços urbano-suburbanos, no universo dos câmbios midiáticos e do texto escrito “erudito”, ou não, e no jogo fluído das fronteiras porosas entre as camadas socioculturais amazônicas e suas produções simbólicas? Como se espraia na transição entre arte-popular-tradição e arte-transição-mercado-globalização? Como, enfim, têm ocorrido e se materializado os fluxos identitários amazônicos entre produção de poéticas, arte, cultura, vida, e a construção de sua própria memória, “tradição”, identidades e os movimentos de tramitação global e tecnológica? Contiguidade, continuidade, ruptura? Como pensar esse conjunto em inter-relação da voz na dinamicidade da manutenção, da ampliação e possíveis permanências e atualizações das culturas? No possível mundo globalizado como se expõem e/ou comercializam as culturas-artes populares da Amazônia? Como e com quais implicações a literatura, o cinema, o vídeo, as mil e uma cibers-possibilidades criam, recriam, inventam, transpõem para o imaginário ocidental os espaços e as gentes amazônicas? Não somente relacionada à escritura, mas ao tecido (tessitura) cultural (divulgação/recepção de textos, negociações, etc.) tanto na constituição do veio identitário quanto para suas possíveis conexões e/ou superações. Como os paradigmas matriciais de identidades locais se atualizam/criam/recriam/inventam na relação direta entre os múltiplos textos culturais? O objetivo deste simpósio é trançar-traçar uma cartografia-rede ampla e plural das poéticas das culturas populares da Amazônia na perspectiva das elaborações de identidades no trânsito das rotas da globalização. Refletir sobre as relações entre a produção poética contemporânea amazônica e as tendências gerais do mundo globalizado. Como têm se configurado? São as mesmas para si, em seu próprio contexto cultural? Talvez uma outra para o contexto global? Até que ponto as artes populares amazônicas e suas relações identitárias se problematizam diante da hegemonia nacional ou até internacional e trazem à tona não apenas a sua existência, mas a sua produção-reivindicatória de reconhecimento diante do “outro”? Em termos da materialidade, instrumento, dessas poéticas, reconhecemos como legítimas as diferentes formas de narrativas populares em si, como textos orais e suas relações com a literatura escrita quer “popular” quer “erudita”; outras linguagens, sejam elas visuais (cinema, vídeo), midiáticas, musicais e artísticas (teatrais etc.). Refletir sobre as pesquisas em torno das diversas manifestações das culturas populares Amazônicas identificando, reconhecendo nas construções poéticas de textos culturais artísticos variados e múltiplos os diferentes embates, as diferentes temporalidades, identidades, tradições e transições; problematizar os fluxos e trânsitos na dimensão dos intercâmbios com o mundo contemporâneo; rastrear as territorializações-desterritorializações-reterritorializações das produções amazônicas populares e o diálogo com o repertório tecno-global, mercadológico   é nossa proposta.

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